Queridamiga


Vi uma foto nossa e lembrei como era bom e confortável ter sua companhia, amiga. Engraçado como ainda não consigo te chamar de outra coisa, a não ser AMIGA. Mesmo a gente não sendo mais amigos e nem conhecidos. Agora, somos alheios um ao outro. Sua vida não me interessa e a minha não te interessa, pelo contrário, passa despercebida. Quase sempre nos vemos em festas e sempre fazemos a mesma coisa: fingimos. Fingimos tão bem que parece que nunca fomos amigos. Mas, fomos. E nossa amizade teve um curto espaço de tempo. Nem foi para os aparelhos, porque nem tentamos revivê-la. Na verdade, amiga, até hoje não sei o porquê de tudo ter acontecido. 

Era bom ter sua companhia doce e afável. Era bom poder nadar na sua piscina de plástico em dias quentes e tomar uma ducha depois, no chuveiro que seu pai colocou na parede de cimento chapiscado. Era bom comer pizzas vegetarianas, mesmo eu odiando "carne" de jaca. Era bom comer alguma coisa de Kefir com pedacinhos de doce que sua mãe fazia. Mas, tudo acabou. Não existem mais piscinas, doces, companhia, afeto. No começo, doeu um pouco, principalmente por eu não saber exatamente o que estava acontecendo. Eu não podia carregar a culpa por algo que eu não sabia ao certo e acho que isso você compreendeu. Terminei o ano passado livre dessa culpa. Sabe, amiga, essa culpa eu não carrego mais. E nem quero. E nem posso. 

Contei a nossa história para um amigo psicólogo e ele me disse que a culpa só existe quando o causador se sente, obviamente, responsável. E eu não me sinto. Segundo a Wikipédia: "o sentimento de culpa é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido". Hoje, ainda continuo sem saber o que errei, porém, não faz mais diferença. Não faz, porque nossa amizade prescreveu. Todo e qualquer afeto se tornou memória, boas memórias, devo dizer. Acho que deveríamos ter conversado e tentado resolver a situação. Eu queria ter te contado tanta coisa, sabe. Muita coisa boa, outras nem tanto. Queria que você nadasse na minha piscina agora. E comesse kefir na minha casa. 

Comentários

  1. Uau! Quantos de nós nutrimos esse mesmo sentimento em relação a tanta coisa, não só pessoas, mas também, lugares, objetos, comidas, que antes eram nossa vida e agora seguimos sem elas. Vamos nadar juntos, amigo!

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  2. Impossível ler e não ter essa história, com algo ou alguém.

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