A lacuna entre nós e o perdão

Na busca de igualar as coisas, de equiparar o dano recebido, da violência cometida, sujeitamos a nos despir da sensatez. Vem a loucura, a dor, o ressentimento, a sensação de impunidade e retira toda nossa capacidade de pensar e perdoar. Voltamos ao período da justiça com as próprias mãos. Mas quando acorrentamos alguém em um poste e o massacramos para satisfazer nosso ímpeto de justiça, nos tornamos o quê? Justiceiros ou algozes? No livro "quatro gigantes da alma", o escritor e psiquiatra Emílio Mira y Lopez comenta que "com extraordinária frequência, um sentimento colérico se disfarça em atitude justiceira, e assim os excessos da vingança tomam o nome de atos reparadores".

Nossos ideais de justiça, política e democracia surgiram há muito tempo, mas foram sendo lapidadas pelos interesses e precisões de cada época. Hoje, justiça é sanar o erro cometido mesmo que isso signifique nos transformar no opressor. Democracia atualmente é ter o poder de causar o mesmo dano que nos foi afligido pelos nossos algozes. Mas poucos sabem ou ignoram que o perdão ainda continua sendo para nós e não para o outro. Quando perdoamos alguém, estamos nos dando uma nova chance de prosseguir apesar de tudo. Perdoar não é dar ao outro uma nova chance de errar. Perdoar é dar-nos uma nova chance de recomeçar. E no vão criado entre nós e o perdão, prospera um sentimento que ainda não tem nome: é mais violento que a cólera, mais destruidor do que o ódio e mais perigoso do que a vingança.

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