Quando

Fonte: tumblr
Quando voa o inseto noturno, e o monte faz sombra, e as folhas de eucalipto balançam sem parar, e a grama repousa delicadamente ao ser pisada, e a cobra desliza suavemente na terra vermelha e cheias de pedregulhos, que rangem em contato com a sola dos meus sapatos, sua mão desliza delicadamente, pois existe sua presença. 

Quando o trovão claro ruge no céu negro e fresco, salpicado por bilhões e bilhões de gotículas de água, e o vento sopra ao leste, levando flores, frutos, caule, tronco, e a minhoca come a terra para abrir a terra, e os portões de aço batem loucamente tocados pela mão invisível de deus, e as saias das mulheres da praça alçam voo, e os papagaios e as aves do paraíso gritam no mato verde, entre frutos maduros e verdes que secam ou queimam a boca, seus olhos olham as belezas microscópicas da beleza terrena e celular.

Quando as rosas e as damas-da-noite exalam perfume, e as outras plantas cospem no ar a fragrância da noite, e as bicicletas rodam pelos bairros, e os morcegos chupam o sangue de suas vítimas noturnas, e as aranhas paralisam as moscas distraídas e sonsas, e os vaga-lumes piscam-piscam no escuro úmido do cerrado, e os galhos tortos das árvores abrigam centenas e centenas de formigas vermelhas e negras e marrons, e os bois mugem de madrugada, porque faz calor e a lua está linda e plena, seus lábios tocam a superfície da minha pele sem raça. 

Quando as mães de todos os cantos chamam seus filhos travessos, e os pais mergulham na solidão masculina, e as avós rezam seus terços imaculados, e as dançarinas rezam delicadamente com as pernas, e as prostitutas deslizam seu amor para a cama dura, e quando os meninos descem as ladeiras com seus carrinhos de brinquedo, e meninas rezam para serem mulheres mais livres que suas mães que chamam seus irmãos travessos, seus ouvidos ouvem o vento zumbindo no telhado, enquanto faz noite do lado de fora da vida.

Quando os animais aquáticos dormem nos lagos, nos rios, nos mares, e a baleia gigante corta oceanos, e o peixe estrábico brilha nas profundezas dos muitas léguas submarinas, e os bebês choram com medo do polvo de múltiplos braços, e os pescadores beijam apaixonadamente as sereias que prenunciam a morte líquida, e as mulheres que seguram velas fazendo vigílias esperando seus amados-pescadores voltarem, e o padre reza uma oração para Santa Bárbara parar com os raios e acalmar os ares, sua presença me aguarda, em algum lugar, sem saber a hora.

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