Chora, amigo
Chora, amigo, chora que o choro lava a terra seca e tira a
tristeza dos olhos. Arrebenta essa lágrima reprimida, como água suja e pesada
presa nos encanamentos dos prédios. Chora, meu amigo, chora com toda sua força
para se livrar dessas águas que já passaram e não passarão de novo. Na verdade,
você não sabe se essas águas vão passar de novo, e se passarem é bom que o rio
esteja novo e as vias lagrimais limpas. O córrego precisa estar limpo para que
água nova venha pura. Pois, amor também tem choro bom, quente, como gotas de
verão que a gente coloca na língua.
Chora, amigo, chora que o tempo é curto. Mas, chora com
vontade, sem farsa, sem papel de teatro. Chora somente para você, no seu
camarim particular. Deixa essas lágrimas, que agora são amargas, saírem para
vim lágrimas novas. O choro é o terremoto da alma. Existem terremotos que nos
arrebentam por dentro e que destroem tudo. Outros, pelo contrário, colocam as coisas no lugar em que elas deveriam estar. Chora, amigo, porque eu acho lindo homem chorar
por amor. Lindo demais ver a cabeça de um Hércules derramar água pelos olhos.
Se Hércules tivesse chorado, talvez de verdade, tenho certeza que teria brotado
um rio ou um mar ou uma fonte. Tem vergonha não, amigo, chora de amor, pois é
lindo.
Chora, porque isso vai trazer novos barcos, jangadas,
navios, canoas para teus rios, teus caminhos secretos embrenhados no mato, em
seu manguezal de sentimentos. Chora, porque a vida é breve. Se eu pudesse
choraria de amor com você, porque seríamos dois homens chorando. Chora, meu
amigo, porque, ao contrários do que dizem, chorar é uma expressão sutil e
honesta de coragem. O choro de amor é o néctar dos heróis.
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