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Mostrando postagens de agosto, 2019

Chora, amigo

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Chora, amigo, chora que o choro lava a terra seca e tira a tristeza dos olhos. Arrebenta essa lágrima reprimida, como água suja e pesada presa nos encanamentos dos prédios. Chora, meu amigo, chora com toda sua força para se livrar dessas águas que já passaram e não passarão de novo. Na verdade, você não sabe se essas águas vão passar de novo, e se passarem é bom que o rio esteja novo e as vias lagrimais limpas. O córrego precisa estar limpo para que água nova venha pura. Pois, amor também tem choro bom, quente, como gotas de verão que a gente coloca na língua. Chora, amigo, chora que o tempo é curto. Mas, chora com vontade, sem farsa, sem papel de teatro. Chora somente para você, no seu camarim particular. Deixa essas lágrimas, que agora são amargas, saírem para vim lágrimas novas. O choro é o terremoto da alma. Existem terremotos que nos arrebentam por dentro e que destroem tudo. Outros, pelo contrário, colocam as coisas no lugar em que elas deveriam estar. Chora, amigo, por

A grande aposta

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Fonte: Pinterest Ele acreditava que Maria de Lourdes Fragoso era mulher leviana. Mulher dessas que se atracava nos braços de um desconhecido em uma esquina escura, mal iluminada. Mas a história de Maria de Lourdes Fragoso era a de que em sua cama apenas tinha havido um único homem: seu atual namorado que quase era esposo. Mas ele duvidava da fidelidade dela. Em doses homeopáticas, atribuía as suspeitas de infidelidade nos pequenos atos a dois: lanches, cafés, saídas, sorvetes. Maria contou as suspeitas para uma amiga confidente. Disse que de homem apenas conhecia seu namorado e mais nenhum. Tinha feito coisas inacreditáveis por ele, pois seu pai era policial e muito rígido. Uma vez, disse ela, ele pediu para que ela dormisse com ele, apenas dormisse: durma essa noite comigo, meu bem. Simplesmente, queria dormir com ela.  Mas Maria de Lourdes não conseguiu uma boa desculpa para se deitar ao lado daquele seu homem. Ao contar isso para sua amiga, pensou que talvez fosse esse

Queridamiga

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Vi uma foto nossa e lembrei como era bom e confortável ter sua companhia, amiga. Engraçado como ainda não consigo te chamar de outra coisa, a não ser AMIGA. Mesmo a gente não sendo mais amigos e nem conhecidos. Agora, somos alheios um ao outro. Sua vida não me interessa e a minha não te interessa, pelo contrário, passa despercebida. Quase sempre nos vemos em festas e sempre fazemos a mesma coisa: fingimos. Fingimos tão bem que parece que nunca fomos amigos. Mas, fomos. E nossa amizade teve um curto espaço de tempo. Nem foi para os aparelhos, porque nem tentamos revivê-la. Na verdade, amiga, até hoje não sei o porquê de tudo ter acontecido.  Era bom ter sua companhia doce e afável. Era bom poder nadar na sua piscina de plástico em dias quentes e tomar uma ducha depois, no chuveiro que seu pai colocou na parede de cimento chapiscado. Era bom comer pizzas vegetarianas, mesmo eu odiando "carne" de jaca. Era bom comer alguma coisa de Kefir com pedacinhos de doce que sua

A vida acontece

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Escritora, jornalista e roteirista norte-americana, Joan Didion. Existem duas frases que ecoam em minha cabeça neste momento. A primeira é da escritora norte-americana, Joan Didion, presente no livro "O Ano do Pensamento Mágico": "A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante. Você se senta para jantar, e aquela vida que você conhecia acaba de repente." A segunda é menos fatalista (ou talvez mórbida) e veio direto do admirável e otimista "Filtro solar", de Mary Schmich. Porém, desse texto, ouço a voz grave e deliciosa de Pedro Bial dizendo: "As encrencas de verdade da sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada/ E te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de um terça-feira modorrenta".  Todas essas frases tocam em um ponto sobre a vida: ELA NÃO SEGUE ROTEIROS. No começo, é bem doloroso aceitar que a vida não segue planos e que nossos post-its podem, e talvez vão, falhar. Na verdade, a dor da su

A novela que cura

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Quem quer ser Bela Aldama? Enquanto espirro e tusso quase sem parar, assisto uma telenovela mexicana. Na mesa, alguns antibióticos e remédios para um pesado resfriado. A vida passa lenta e calma do lado de fora da casa. O mundo não para por ninguém. A televisão exibe uma cena muito corriqueira na teledramaturgia mexicana: uma enfermeira com cara de malvada, usando uma peruca curta de cabelos escuros, raptando crianças para realizar um plano de vingança. O que me chama atenção é seu carro com estofado na cor rubra (ou é vinho?) e ainda de veludo.  Enquanto a enfermeira falsa, muito falsa, aliás, foge para não ser pega, a mãe dos meninos surta no hospital. Seu marido a sacode e pede paciência. O irmão dela, da mãe dos meninos, entra em outra cena gritando, louco, dizendo que vai procurar as crianças por todas as ruas da cidade. Claro, ele parte e encontra uma pista. Atormentada, a mãe das crianças chama pelos seus nomes compostos e reza com veemência para a Nossa Senhora de Gu