Chora, amigo
Chora, amigo, chora que o choro lava a terra seca e tira a tristeza dos olhos. Arrebenta essa lágrima reprimida, como água suja e pesada presa nos encanamentos dos prédios. Chora, meu amigo, chora com toda sua força para se livrar dessas águas que já passaram e não passarão de novo. Na verdade, você não sabe se essas águas vão passar de novo, e se passarem é bom que o rio esteja novo e as vias lagrimais limpas. O córrego precisa estar limpo para que água nova venha pura. Pois, amor também tem choro bom, quente, como gotas de verão que a gente coloca na língua. Chora, amigo, chora que o tempo é curto. Mas, chora com vontade, sem farsa, sem papel de teatro. Chora somente para você, no seu camarim particular. Deixa essas lágrimas, que agora são amargas, saírem para vim lágrimas novas. O choro é o terremoto da alma. Existem terremotos que nos arrebentam por dentro e que destroem tudo. Outros, pelo contrário, colocam as coisas no lugar em que elas deveriam estar. Chora, amigo, por